Uma chopada, dois lados da força

por Vinícius Albuquerque Machado

Fatos concretos sobre a última chopada continuam sendo poucos. Mesmo porque o elevado número de embriagados dificulta a distinção entre o real e a alucinação em nossa memória coletiva. Porém, não há como negar a seguinte assertiva: a chopada foi franciscana. A ordem dela foi prezar pela humildade. Humildade no curto tempo em que durou, na hora de comprar de cerveja e na hora de contratar o DJ. Na incansável busca pela informação, o PET e seus colaboradores apuraram os fatos a fim de editar uma reportagem esclarecedora, para que o fiasco dessa última edição não venha a se repetir.
1. Você está dando início a um tipo de texto que foge à idéia do texto jornalístico e aproxima-se de uma coluna de opinião. Mas relaxa. Não é um erro, é uma opção sua; só pra notificar mesmo, porque não poderemos criticar este texto como matéria jornalística tradicional, apesar de estar muito bem escrito.

2. "PET"? Não... O ECOnotícias.

3. "Humildade no curto tempo... na hora de contratar" – a frase poderia ser melhor resolvida, sem repetição e prestando mais atenção à metáfora feita.
Esqueçamos um pouco a "idiotice da objetividade" e contemos, ainda em tempo, a ordem cronológica dos fatos. Lá pelas sete e meia, a cerveja chegou. Foram colocadas para gelar e um pouco antes das oito já estavam sendo consumidas. As oito a chopada começou oficialmente. Os estudantes da ECO foram paulatinamente chegando e trazendo consigo amigos de infância, da rua e da Turquia (sim, havia um turco que sequer falava português fazendo uma social lá na praia vermelha). Quando subíamos à calçada e dávamos uma panorâmica na praia, as onze, parecia mais ser a chopada da Economia. Isso porque eles estavam com pulseira, em número consideravelmente alto. Sem contar Administração e outras. O que posteriormente causou muita polêmica. Dada essa conjuntura, o inevitável veio a galope. A cerveja acabou meia noite. Uma hora da manhã, o DJ recolheu o som. Isso porque o forró que ele pôs estava se repetindo, praticamente expulsando a galera da festa. A falta de cerveja e de música resultou em uma debandada geral.
4. Observação interessante sobre o tal cara da Turquia. É importante, já que estamos falando de informação, que haja verdade. Por isso é preciso saber o que aconteceu de verdade, sempre. Poderia ter se aprofundado mais também (quem trouxe ele?). Tome cuidado ao apurar os fatos: não podia um aluno de intercâmbio da ECO?

4.1. Como ele vai aprofundar isso? Acho uma observação engraçada, que preende ser superficial mesmo,
um efeite.

5. Referir-se a horas é um caso de crase. Portanto, seria "às oito...", "às onze" e "à meia-noite".
6. Existe "dar uma panorâmica"?
Em meio a tanto disse-que-disse, propomos colocar os pingos nos Is. Recolhemos as duas posições antagônicas para fazer o balanço mais imparcial possível dessa chopada. De um lado, Mulan, um dos colaboradores. Do outro, o misterioso autor do manifesto da chopada, a quem tomarei a liberdade de chamá-lo de Raposa, alcunha forjada por seus amigos. Confira as duas entrevistas e tirem suas próprias conclusões. (antes que se perguntem quem é o Vlad, ele é o entrevistador improvisado.)
7. "pingos nos is" em vez de "pingo nos Is".

8. "Recolhemos as duas posições antagônicas..." – recolhe-se posição? Cuidado com o vocabulário. É legal usar palavras diferentes, desde que não soe estranho ou ninguém conheça.

9. "A quem tomarei a liberdade de chamá-lo...", dois objeto pro mesmo verbo.

10. A questão do manifesto e a existência de uma entrevista exclusiva com o cara que o escreveu merecia um destaque MUITO maior! Mesmo que você tenha fugido do padrão de texto jornalístico clássico, deveria vir lá em cima, como forma de motivação de leitura do seu texto. Não acha?

10.1. Acho que, como o texto é mais literário, não precisa aplicar as regras da pirâmide invertida. O jeito que ele começou ta um formato mais de reportagem, não de notícia.

11. Ao invés de "Vlad", o entrevistador deve aparecer como "REPORTAGEM" ou "ECONOTÍCIAS". O seu nome já virá no topo da matéria.

11.1. Achei engraçado colocar Vlad, cabe na linguagem que ele usou.
Vlad – Vou ser direto, porque a chopada foi tão ruim se a arrecadação foi recorde?
Mulan – A chopada teve uma avaliação abaixo das expectativas porque muitos veteranos levaram amigos de fora, o que acabou com a cerveja rapidamente.Além disso, o número de penetras foi muito alto. E quanto a arrecadação , esse período teve o recorde de tempo, não de valores.
12. Acho desnecessário o "vou ser direto", justamente para o texto ser o mais direto possível.

13. Crase: "e quanto à arrecadação..."
Vlad – A organização poderia liberar o papel que comprova o pagamento dos calouros?
Mulan – O papel não está comigo. O Will deve saber*¹.

Vlad – O que você tem a declarar sobre o manifesto da chopada?
Mulan - Não tenho nada a dizer. Mas, sinceramente, acho que se a festa começa oito horas da noite e você ainda não está bêbado a meia noite, você deve estar com algum problema. Algumas coisas no manifesto me chamaram atenção como cercar a praia. Isso é tecnicamente impossível. Nós não podemos cercar a praia, não temos autorização da prefeitura. Por isso, temos que separar uns duzentos contos caso algum policial apareça na hora da chopada.
14. Crase: "à meia-noite".

15. Seria legal vc ter pedido uma cópia do manifesto para que pudéssemos publicar trechos num box. Tem gente que nunca leu (eu, por exemplo).
Vlad – Alguns caras de outros cursos foram vistos de pulseira. Vocês venderam?
Mulan – Não estou sabendo de nada. Acho um vacilo a venda de pulseiras.
16. "Alguns caras"? Que tal alunos, estudantes, pessoas...?

16.1. Acho que devemos respeitar a linguagem informal utilizada que torna a reportagem divertida – semisso, ela não seria metade do que é.
Vlad – Os organizadores do evento foram vistos no Outback na seunda-feira anterior à chopada. Vocês utilizaram a verba da festa para comer no restaurante?
Mulan - Eu fui ao Outback com a Luísa, Gustavo e outros muito antes da data que lhe disseram. Na segunda-feira anterior a chopada, se houve comemoração no Outback, não me chamaram.
17. Crase: "anterior à choppada".
Vlad - O manifesto andou um tempo fora do mural. Foi a organização da chopada que retirou?
Mulan – Eu nem tinha lido o manifesto. Muito menos sabia que ele andou um tempo fora do mural.
18. Ele não andou um tempo fora do mural. Andou? Não foi você que não tinha achado?
No canto oposto do ringue e disposto a quebrar os paradigmas de uma péssima chopada, "A Raposa"!

Vlad – O que te levou a escrever um manifesto para essa chopada?
"A Raposa" - Olha cara, eu estou cursando o terceiro período. Já fui a chopadas anteriores à essa. Por isso, já sei de alguns esquemas podres que rolam e também por causa disso fico meio p... Os organizadores vendem pulseira, julgam quem deve e quem não deve entrar, diminuem o preço da cota para quem é mais "chegado" entre outras falcatruas menores. O Johnny sempre leva um dinheiro por fora. Eu partilho da seguinte opinião: quer fazer um evento que não é com o seu dinheiro, faça com ética e transparência. A próxima que houver NÃO será organizada por eles. O fato de a cerveja acabar meia noite é no mínimo suspeito.Porque eles não fizeram uma tabela de pagamento dos calouros e trouxeram a nota fiscal? A resposta é simples. Os organizadores não gastaram apenas com cerveja*².
19. Acho que cabe uma introdução melhor à mudança de entrevistado. Uma linha só ficou um pouco perdida.

20. Entrevistas não precisam traduzir exatamente o que é dito. Você pode transcrever a idéia central com suas palavras; nem o entrevistado lembrará da maneira exata que ele disse e ainda ficará feliz se você der uma recauchutada, como geralmente acontece. Daí a falta de necessidade de aspectos muito ligados à linguagem oral como "olha, cara" (que tem que ter vírgula, além disso).

20.1. Neste caso, cabe colocar os vício de linguagem do entrevistado, na minha opinião. (senão seriacomo entrevistar o Tom Zé e não colocar o sotaque e as gírias... não teria graça)

20.2. Com certeza, no caso do Tom Zé e em outros, faz sentido. Mas isso não é vício de linguagemcaracterístico do entrevistado, mas sim uso de linguagem popular.

20.3. Se o seu texto já está tão informal, por que evitar o palavrão? É muito interessante, neste caso,manter a maneira de falar das pessoas na escrita. Você fez isso! Faltou só o palavrão mesmo.

21. Em "olha cara", coloque uma vírgula de aposto.

22. Crase: não há em "anteriores à essa".

23. Vírgula depois de "'chegado'".

24. Melhor que utilizar letras maiúscula para expressar veemência, é utilizar o itálico.

25. "Por que" separado em início de pergunta.
Vlad – A acusação que os organizadores andaram recebendo sobre torrarem o dinheiro da chopada no Outback parece infundada, por uma incompatibilidade nas datas apresentadas dos dois lados. O que você tem a dizer?
"A Raposa" – O importante não é o fato de estarem ou não no Outback na determinada data. O que interessa é que quem está promovendo a nossa chopada rouba. Eles tem de nos provar que não houve desvio dessa verba na chopada. A verdade é que a chopada de Comunicação está uma m...

Vlad – Você pretende organizar a confraternização dos estudantes a partir da próxima edição?
"A Raposa" – Pretendo tirar essas figuras do posto de organizadores.

*¹o Will disse que o papel estava com o Marcelo.
* ²O entrevistador não se confundiu nas perguntas que fez, é "A Raposa" que fala como uma metralhadora e é seu próprio interlocutor.
26. Notas no pé da página não são uma boa idéia. A sua nota 1, por exemplo, só traz indícios de uma imprecisão jornalística, já que você não diz o que o Marcelo disse sobre o papel. Em todo caso, poderia entrar no texto normal. Já a segunda nota, também pode ser evitada. Quando ocorrerem esses casos em que o entrevistado fala muito, você pode criar, a partir das respostas dele, novas perguntas que você nem chegou a fazer – desde que, é claro, você não faça mudanças da idéia central. Lógico que não pode, por exemplo, só porque ele disse "sim", colocar em cima uma pergunta do tipo "você é gay?".

27. Poderia ter tentado falar com o Will também.

28. Parabéns pelo trabalho de investigação. Você teve muita coragem em procurar o Mulan e muita determinação e espírito de repórter para encontrar o autor do Manifesto! Muito bem!

29. Seu texto, apesar de fugir do padrão jornalístico clássico, está muito bem escrito e interessante do ponto de vista de uma coluna, de uma crônica ou algo do tipo. Vale a pena discutirmos, depois, em uma das reuniões, como forma de aprendizado, o que mudaria no efeito dele se fosse escrito como uma notícia.

30. O início ficou muito bom, mesmo que você não tenha ressaltado o mais importante. Valeu a contextualização. Particularmente, adorei o "franciscano" – super irônico e coerente com o texto e o conteúdo. Super parabéns!!!

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